“A repercussão extremamente positiva no cenário científico mundial deste trabalho sempre me adverte do tamanho de nossas responsabilidades e do quanto a sociedade espera de nós”, diz a Dra. Natália Tobar Toledo Prudente da Silva, biomédica e pesquisadora associada do CEPID CancerThera, ao ser questionada sobre a importância de receber o Prêmio Tese Destaque Unicamp 2024, na categoria Ciências Biológicas e da Saúde, pelo resultado de sua pesquisa de doutoramento intitulada “Efeitos farmacológicos da metformina sobre a captação intestinal de glicose e indução do crosstalk intestino-fígado no controle da neoglicogênese hepática”.
A cerimônia de premiação aconteceu em 12 de agosto de 2024 no Salão Nobre do Conselho Universitário da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Recebi com muita emoção e alegria a notícia sobre esse prêmio. Foram 10 anos de árduo trabalho acompanhado de imensos desafios, e que só se concretizou de maneira tão satisfatória porque muitos profissionais, da mais alta qualificação, estavam envolvidos e se doaram tanto”, conta Tobar.
Entre seus principais colaboradores, a pesquisadora aponta o Prof. Dr. Mario José Abdalla Saad, seu orientador, e as equipes de profissionais de unidades vinculadas à Unicamp, como o Serviço de Medicina Nuclear do Hospital de Clínicas, o Instituto de Biologia, o Instituto de Química, a Faculdade de Ciências Médicas, o Centro de Engenharia Biomédica e a Faculdade de Ciências Aplicadas; além das afiliadas a instituições externas, como o Departamento de Educação Física da Universidade Estadual Paulista, o Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, o Instituto Butantã e o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais.
O estudo foi financiado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Obesidade e Diabetes, pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
Maturidade na pesquisa científica
A pesquisadora acredita que a experiência no desenvolvimento do estudo poderá contribuir com sua atuação no CancerThera, um centro de pesquisa multidisciplinar, que envolve o fluxo translacional entre os braços de pesquisa básico, pré-clínico e clínico, formados por profissionais atuantes em diversas áreas do conhecimento empenhados em fazer avançar a abordagem teranóstica no câncer. “Todos esses anos de dedicação me capacitaram, principalmente, a me tornar resiliente, a valorizar o empenho e o suporte de cada profissional envolvido, a ter disciplina e a desenvolver uma visão sistêmica e crítica de tudo o que tinha em mãos para aproveitá-lo da melhor forma”, destaca Tobar.
Ela ainda afirma que conduzir o estudo por tanto tempo lhe permitiu amadurecer o que significa fazer pesquisa, o que, para ela, está “além do conteúdo científico por si mesmo, devendo ser ampliado para além de cada novo experimento de bancada, a fim de chegar a quem de fato precisa se beneficiar do conhecimento, que é a sociedade”. E completa: “Tudo isso me preparou para integrar um projeto tão plural em seus temas e tão ricamente diverso em sua equipe de cientistas, capacitando-me ao gerenciamento de pesquisas e terapias e ao apoio de estudantes, funções às quais estou vinculada no CancerThera”.
Do que trata o estudo premiado?
Há mais de 60 anos, a metformina tem sido a droga mais recomendada e utilizada no tratamento do diabetes tipo 2. Até a realização do estudo conduzido por Tobar e Saad, acreditava-se que o fígado era o primeiro e o principal órgão de atuação da metformina para bloquear a glicose produzida por ele mesmo, durante os momentos de jejum, por exemplo.
Entretanto, os pesquisadores participantes do estudo concluíram que a metformina induz a captação reversa de glicose no intestino, tirando a glicose da circulação sanguínea. No intestino, por sua vez, a droga estimula o reaparecimento de um transportador de glicose conhecido como GLUT-1 – que só é encontrado, normalmente, no intestino de fetos, e acaba sendo desativado depois do nascimento. Além do GLUT-1, a metformina também é responsável pela ativação do GLUT-2, outro transportador de glicose.
A droga regula, então, a atuação de ambos os transportadores em resposta aos diferentes níveis de glicemia: se muito alta, o GLUT-2 entra em ação; se muito baixa, o GLUT-1 é o protagonista. Então, numa interação – uma espécie de “conversa” – por meio de metabólitos resultantes da ação do GLUT-1 e do GLUT-2, o intestino informa ao fígado se ele deve ou não reduzir a produção de glicose. É, portanto, o intestino que determina o efeito final da metformina.
Esse mecanismo desvendado pelos pesquisadores abre uma nova perspectiva para outros estudos sobre o tratamento do diabetes tipo 2 e reforça a prescrição da metformina como primeira escolha para pacientes com a doença.
Os resultados da tese de Tobar também foram publicados em forma de artigo na revista The Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), sendo intitulado “Metformin acts in the gut and induces gut-liver crosstalk”. Assinam como coautores: Natália Tobar Toledo Prudente da Silva; Mario Saad; Guilherme Z. Rocha; Andrey Santos; Dioze Guadagnini; Heloísa B. Assalin; Juliana A. Camargo; Any E. S. S. Gonçalves; Flávia R. Pallis; Alexandre G. Oliveira; Silvana A. Rocco; Raphael M. Neto; Irene Layanae de Sousa; Marcos R. Alborghetti; Maurício L. Sforça; Patrícia B. Rodrigues; Raíssa G. Ludwig; Emerielle C. Vanzela; Sérgio Q. Brunetto; Patrícia A. Boer; José A. Ro. Gontijo; Bruno Geloneze; Carla E. O. Carvalho; Patrícia O. Prada; Franco Folli; Rui Curi; Marcelo A. Mori; Marco A.R. Vinolo; Celso D. Ramos; Kleber G. Franchini; e Cláudio F. Tormena.
[[legenda da foto]] “Sinto-me honrada por esse tipo de reconhecimento e, mais uma vez, incentivada a me dedicar cada vez mais ao desenvolvimento de pesquisas com grande potencial de impacto no meio científico, acadêmico e social, como as que estamos realizando no CEPID CancerThera”, diz a Dra. Natália Tobar, pesquisadora associada do nosso centro de pesquisa.
Assista ao vídeo da cerimônia de premiação
Texto: Romulo Santana Osthues; com informações de Camila Delmondes (Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp).
Fotos: identificar autor antes de publicar.