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Alunos de escolas estaduais de Campinas fazem pesquisa em laboratório do CancerThera durante o programa “Ciência & Arte nas Férias”

“Estou conhecendo muitas coisas novas, muitas informações sobre o mundo no qual eu gostaria de entrar. Não tinha certeza ainda, agora tenho”, diz Ryan Abner Ferreira dos Santos, aluno da Escola Estadual Prof. Antonio Vilela Júnior, em Campinas (SP). Esse “mundo” que abriu as portas para Ryan é o da universidade, tão desejada pelo estudante de 17 anos que acabou de iniciar o terceiro ano do Ensino Médio, e está naquele tão desafiador momento de decidir que rumo tomar. Em seu caso, a certeza que não tinha era a de qual graduação faria. A Medicina, então, acabou sendo a definição.

A decisão de Ryan foi impactada por sua participação no programa Ciência & Arte nas Férias (CAF), promovido anualmente pela Unicamp, que recebe estudantes do Ensino Médio de escolas estaduais de Campinas para a realização de diversas atividades nos vários institutos, faculdades e demais instalações da universidade. Mais precisamente, Ryan aponta a Medicina como área de sua futura atuação profissional por ter participado de uma atividade proposta pelo Laboratório de Genética do Câncer (LAGECA), da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, e pelo CEPID CancerThera. Participante assídua do CAF há cinco anos, a equipe do laboratório tem a descoberta de novos fármacos para o tratamento de pacientes com câncer como uma das suas linhas de investigação. 

“Avaliação da proliferação e da migração celular em células de câncer de cabeça e pescoço tratadas com peptídeo anti-integrina” foi o título da atividade realizada durante o CAF, ao longo do mês de janeiro, pela equipe do LAGECA, que é coordenada pela Profa. Dra. Carmen Silvia Passos Lima, médica hematologista e oncologista, além de pesquisadora principal no CancerThera. “Temos como objetivos despertar jovens talentos para a pesquisa científica em câncer e apresentá-los, desde cedo, às atividades teórico-práticas fundamentais na assistência ao paciente oncológico, contribuindo para definir o futuro profissional deles”, ela destaca.

Além de Ryan, participaram da atividade as estudantes Nathália Vanin dos Santos (E.E. Prof. Pedro Salvetti Netto) e Vitória Carvalho da Silva (E.E. Profa. Maria Neiva Abdelmassih Justo), 17 e 15 anos respectivamente. O trio aprendeu, na teoria e na prática, sobre temas diversos da Medicina Nuclear e da Oncologia em aulas que ocorreram nas instalações do LAGECA e do Hospital de Clínicas da Unicamp. “Eu gostei da parte prática, principalmente da visita ao hospital. Eu achei muito interessante, porque eu não sabia bem o que era Medicina Nuclear. Eu achava que usavam essas coisas radioativas, que faziam mal. Só que, lá no hospital, eles usam uma dosagem suficiente para ser possível fazer os exames”, descreve Vitória.

Nathália, Ryan e Vitória fizeram diversos experimentos nas instalações do LAGECA durante o CAF 2024

Pesquisa em laboratório

O câncer de cabeça e pescoço é um grave problema de saúde global. As estimativas mais recentes do Instituto Nacional de Câncer (INCA) apontaram que, no ano de 2023, 40 mil brasileiros poderiam ser afetados por ele. Apesar dos avanços em diagnóstico e tratamento, a sobrevida média dos pacientes não aumentou significativamente nas últimas décadas. 

No escopo de metas do CancerThera, está o desenvolvimento de novos radiofármacos para uso teranóstico (diagnóstico e tratamento) em pacientes com esse tipo de tumor. “Está sendo muito gratificante poder ver um pouquinho de como eles estão planejando o trabalho no centro e pesquisando o teranóstico. É um projeto muito inovador, que, se der tudo certo, vai trazer muitos benefícios para a nossa sociedade”, projeta Nathália.

Acompanhados pelos pesquisadores do LAGECA, os estudantes puderam investigar o papel de um agente (peptídeo anti-integrina) na proliferação e na migração de células de câncer de cabeça e pescoço, e verificaram que esse agente inibe a migração de células tumorais, tendo, portanto, um potencial efeito terapêutico. “É possível que a ligação do agente a radiofármacos, como o Gálio-68 e o Tecnécio-99m, nos próximos passos, potencialize o efeito terapêutico do agente, além de permitir a obtenção de imagens radiológicas, contribuindo assim para o diagnóstico do tumor”, explica a coordenadora do laboratório.

O LAGECA no CAF

O objetivo do CAF é despertar o interesse de jovens talentos para a pesquisa científica e as atividades artísticas, envolvendo-os em práticas científicas e seus desafios atuais, considerando a metodologia do trabalho científico, o ambiente humano dos laboratórios de pesquisa e as diferentes formas de expressão artística. Sempre destinado a estudantes do Ensino Médio de escolas estaduais de Campinas, o programa já recebeu mais de 2.550 estudantes desde sua criação, em 2003.

Apesar de os estudantes participarem com mais frequência de uma atividade principal em uma área do conhecimento específica, ao longo do CAF, há momentos em que eles podem intercambiar: são as chamadas “oficinas”. “A gente tem diversos tipos de oficinas. Tem na área das engenharias, na área de humanas… Então, é um meio de conhecimento para você não ficar só no seu projeto, para você também despertar curiosidade por outras áreas, e isso é bem interessante”, descreve Nathália.

Ao final das atividades, os estudantes produziram um pôster e o apresentaram na cerimônia de encerramento do CAF 2024, que aconteceu em 31/01, reafirmando o compromisso de transparência e difusão do conhecimento de instituições como a Unicamp. Nesse sentido, Carmen Lima ressalta: “cabe também aos pesquisadores de universidades públicas contribuir com a formação de estudantes do ensino médio de escolas públicas da região e divulgar os resultados das investigações científicas para a comunidade”.

A pesquisadora relata, ainda, que os estudantes demonstraram grande interesse nas atividades teórico-práticas da assistência ao paciente oncológico (ambulatório de Oncologia, ambulatório de Radioterapia, Serviço de Medicina Nuclear e Hemocentro). “Também atuaram nos ensaios de proliferação e migração de células tumorais, na análise dos resultados e na apresentação deles de forma exemplar”, completa. 

Os bons resultados, assim, fazem com que a equipe do LAGECA já esteja planejando as ações que proporão para o CAF do próximo ano, “visando ao desenvolvimento de outros teranósticos como abordagem moderna e promissora de tratamento de pacientes com câncer, e, desta vez, com atividades junto ao Laboratório de Radioquímica do CancerThera (no momento, em fase de instalação)”, diz a pesquisadora.

Partilha do conhecimento com uma equipe multidisciplinar

Nas três semanas da atividade desenvolvida pelo LAGECA, os estudantes foram acompanhados pela coordenadora do laboratório e pelas seguintes pesquisadoras: Daniele Daiane Affonso, Suelen Aparecida Ribeiro de Souza, Ana Maria Castro Ferreira e Diogo Back Sartoretto com a colaboração de Juliana Carron.

Também colaboraram com as atividades: a Profa. Dra. Barbara Amorim, coordenadora e pesquisadora do CancerThera; a Dra. Thaís Tognoli, médica residente, e Simone Kuba, biomédica, do Serviço de Medicina Nuclear do Hospital de Clínicas da Unicamp; o Dr. Matheus Yung Perin e a Dra. Hádila da Silva Veras Sousa, médicos residentes da Oncologia Clínica e mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Oncologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp; e o Dr. Eduardo Baldon, coordenador do Serviço de Radioterapia do Hospital de Clínicas da Unicamp, e do Dr. Rodrigo Marotta, radioncologista do mesmo hospital.

Acompanhe as novidades do LAGECA no site do laboratório ou em seu perfil do Instagram.

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