No dia 17 de agosto, cerca de 57 mil pessoas passaram pelo campus da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no distrito de Barão Geraldo, Campinas (SP). Rostos jovens em sua maioria. Foi um sábado movimentado, com um frenético e vibrante vaivém pelo campus. Professores, estudantes e seus familiares formavam grupos oriundos de 880 escolas de ensino fundamental e médio de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. A motivação? Participar da Unicamp Portas Abertas (UPA) para conhecer as instalações da instituição, as equipes que nela atuam e a vasta gama de pesquisas em desenvolvimento.
Já se somam 19 edições da UPA, e cada uma delas, ano após ano, se fortalece como uma oportunidade para trocas fundamentais entre a sociedade e os membros da comunidade científica. É um evento que a universidade promove desde 2003 para que pesquisadores, funcionários e alunos das diversas unidades possam apresentar os resultados de seus trabalhos, aproximando a população do cotidiano acadêmico e das práticas de desenvolvimento científico e tecnológico.
Primeira vez na UPA – e com grande público!
Em 2024, o CEPID CancerThera fez sua primeira participação na UPA, levando ao público visitante o conhecimento do que é desenvolvido por nossas equipes sobre o uso de radiofármacos na abordagem teranóstica no câncer em seus três braços da pesquisa translacional: básico, pré-clínico e clínico. “É papel da universidade pública divulgar o que fazem seus pesquisadores para além dos muros que a cercam, e o CancerThera tem uma grande responsabilidade nesse quesito. Desmistificar o uso da radiação e combater a desinformação a respeito das práticas científicas envolvendo radiofármacos estão entre nossas metas como um centro de pesquisa que também está empenhado na difusão do conhecimento e na educação”, explica a Profa. Dra. Elba Etchebehere, médica nuclear, pesquisadora principal e coordenadora da área de Difusão do Conhecimento do nosso centro.
Divididos em grupos de 40, durante 50 minutos, os visitantes puderam aprender sobre o uso da radiação na medicina nuclear, entender o funcionamento integrado dos braços de pesquisa do CancerThera, além de descobrir, de uma maneira didática, o que se faz em cada um desses braços e quem são os pesquisadores responsáveis por eles. Os visitantes entravam no Salão de Habilidades da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (FCM/Unicamp) pela antessala, na qual assistiam a um vídeo instrucional. Em seguida, partiam para a visitação, em um movimento como o de um carrossel, nas quatro diferentes arenas que compunham o espaço, nas quais interagiam com os pesquisadores presentes (confira um resumo da atividade no vídeo a seguir).
Visitaram o espaço destinado à exposição das pesquisas do CancerThera mais de 1300 pessoas, a maioria formada por adolescentes em busca de encontrar o próprio rumo profissional, como é o caso de Marcos Vinícius Gonçalves de Melo (foto ao lado), 18 anos, estudante de um cursinho pré-vestibular em Guarulhos (SP). “Foi muito bom conhecer o CancerThera, pois a gente não imagina que tenha esse tipo de pesquisa sobre radiofármacos e câncer acontecendo aqui na universidade”, ele destaca. Segundo o estudante que deseja ser médico, a forma multidisciplinar e integrada como a pesquisa translacional funciona foi o que mais chamou sua atenção. “No ensino regular, a gente é acostumado a subdividir muito as disciplinas, mas, no CancerThera, a gente vê que está tudo junto para uma finalidade específica, que é diagnosticar e tratar o câncer”, diz.
Outra visitante que saiu entusiasmada com as pesquisas do CancerThera, especialmente as desenvolvidas no braço básico, foi Shirley Gouveia Barbosa de Souza (foto ao lado), 38 anos, estudante de licenciatura em matemática e automação industrial no Instituto Federal de São Paulo, em Cubatão (SP). “A gente sabe que convive com a radiação todos os dias, mas a gente pode ficar mais tranquilo quando tem o conhecimento de como ela funciona de verdade, que é o que foi explicado durante a atividade”, diz Souza ao salientar a importância da troca de informações confiáveis entre os pesquisadores e o público presente no espaço do CancerThera.
Entusiasmo contagiante
“Para mim, participar da UPA foi uma experiência muito especial. Além de compartilhar conhecimentos sobre oncologia, algo que me apaixona, pude perceber o quanto essas interações inspiraram os visitantes”, diz Sophia de Alcantara Rodrigues, graduanda no terceiro ano do curso de Medicina da FCM/Unicamp e presidente da Liga Acadêmica de Oncologia da Unicamp (LAOn), grupo parceiro do CancerThera na organização da atividade do centro de pesquisa na UPA.
“Ver o entusiasmo dos visitantes, especialmente dos jovens, ao descobrir mais sobre a oncologia e a pesquisa científica, foi incrível. Ouvir frases como ‘Nossa! Não sabia que fazer pesquisa era tão legal!’ ou ‘Caramba! Gostei da Oncologia, vou pesquisar mais depois!’ foi muito gratificante e mostrou o impacto positivo que conseguimos causar”
– Sophia de Alcantara Rodrigues,
graduanda em medicina e presidente da LAOn/Unicamp
Rodrigues afirma que participar da organização foi uma experiência enriquecedora para todos os membros da liga, pois eles foram colocados em uma posição diferente da do cotidiano em sala de aula: a de comunicadores da ciência. Ela explica: “Tivemos que aprender a simplificar conceitos complexos e adaptar nossa linguagem para que fosse compreendida por um grupo com diferentes idades. Esse desafio de explicar nosso trabalho de forma acessível desenvolveu habilidades importantes, como a capacidade de falar em público e ser didático. Sem dúvida, isso acrescentou muito à nossa formação acadêmica”.
Nesse sentido, Etchebehere ainda ressalta que “a presença de tantos visitantes interessados em nossas atividades só reforça que é necessário seguir criando oportunidades para o diálogo e as trocas entre a comunidade científica e toda a sociedade. A Unicamp Portas Abertas é uma dessas chances de bons encontros, especialmente com a juventude que está em busca de conhecer opções para suas trajetórias profissionais”. E Rodrigues complementa: “Ao abrir suas portas, a Unicamp se coloca como uma instituição acessível e comprometida com a formação de futuros profissionais, possibilitando que os jovens façam perguntas, tirem dúvidas e compreendam melhor o dia a dia de cada profissão. Dessa maneira, as escolhas profissionais podem ser mais conscientes e alinhadas com seus interesses e habilidades”.
Texto: Romulo Santana Osthues | Fotos: Romulo Santana Osthues e Carmen Silvia Passos Lima