Laura Eckardt Antunes, 21 anos, graduanda do quinto ano em Medicina na Universidade Técnica de Munique (UTM), está realizando um intercâmbio junto à equipe do Laboratório de Genética do Câncer (LAGECA) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), um dos espaços onde as pesquisas do CEPID CancerThera são desenvolvidas. A vivência no Brasil faz parte de um acordo de cooperação entre as duas universidades, que visa a fomentar a troca de conhecimentos e experiências culturais, além de promover avanços na pesquisa científica.
A presença de Antunes na Unicamp é um exemplo do impacto positivo que programas de intercâmbio cultural e científico podem gerar. Ao promover o contato com diferentes realidades, esses programas abrem portas para colaborações internacionais que impulsionam o desenvolvimento científico e tecnológico em diversos setores – como a Oncologia, a Medicina Nuclear, a Química e a Radiofarmácia, áreas nas quais o CEPID CancerThera vem desenvolvendo seus estudos.
Essa integração entre universidades de diferentes países fortalece não só a formação acadêmica dos alunos, mas também contribui para o avanço de pesquisas que podem beneficiar pacientes ao redor do mundo. “Estudantes e pesquisadores estrangeiros trazem ‘um novo olhar’ para a pesquisa, resultado de experiências adquiridas em seus países de origem e suas respectivas culturas. Além disso, possibilitam contatos com pesquisadores de suas instituições, facilitando o desenvolvimento de projetos cooperativos”, diz a Dra. Carmen Silvia Passos Lima, médica oncologista e hematologista, professora da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e pesquisadora principal no CEPID CancerThera. Lima, que é líder do LAGECA, é uma das pesquisadoras anfitriãs de Antunes na universidade.
Por que o Brasil?
Antunes, filha de mãe alemã e pai português, decidiu expandir seus horizontes acadêmicos ao buscar uma vivência fora da Europa. A escolha pelo Brasil, onde ela nunca pisara antes, não foi por acaso: além da parceria entre a UTM e a Unicamp, a estudante também tem familiares maternos vivendo em Campinas (SP), cidade onde se localiza o maior campus da universidade que a está acolhendo. Apesar de não morar com esses familiares, ela ressalta que ter ciência de que eles vivem na cidade tornou mais tranquila a vinda para um território completamente diferente do seu.
A intercambista afirma também que sua curiosidade sobre o sistema público de saúde brasileiro foi um dos principais motivadores de sua escolha. Ela sabia que há desafios em termos de recursos financeiros, mas queria entender como um país com uma população tão grande lida com o acesso à saúde, indo dos diagnósticos aos tratamentos, e ainda ter um funcionamento capaz de atender à maioria dessa população – o Sistema Único de Saúde (SUS) é responsável por atender mais de 190 milhões de brasileiros, sendo que 80% são exclusivamente dependentes dele como beneficiários de cuidados médicos.
Rotina como pesquisadora
Desde sua chegada, em setembro, a estudante tem participado ativamente de diversas atividades na universidade. Inicialmente, fez um estágio de quatro semanas no ambulatório de Oncologia do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, e seguirá tendo outras experiências de estágio até dezembro, quando retornará ao seu país natal. No entanto, foi o interesse pela pesquisa científica básica que a conduziu ao LAGECA, liderado por Lima. “Na Alemanha, nunca tive experiência regular com pesquisa, e era uma área que me interessava muito, mas ainda não conhecia nada. Então, quando conheci a professora Carmen, perguntei se podia visitar o laboratório dela. Ela me convidou, e eu cheguei aqui”, relata.
Desde então, paralelamente aos estágios, por indicação de Lima, ela está envolvida em um estudo conduzido pelo farmacêutico Gilberto Carlos Franchi Jr., pesquisador associado do CEPID CancerThera, e que também atua na equipe do LAGECA. Com a supervisão dele, Antunes vem testando, em diferentes tipos de células tumorais, compostos produzidos no Instituto de Química da Unicamp.
Sua atuação como pesquisadora vem sendo elogiada. Lima aponta aspectos de destaque no compromisso da estudante com as investigações em andamento: “o seu interesse no projeto de pesquisa e a sua dedicação às atividades inerentes ao seu desenvolvimento, como levantamento bibliográfico do tema, aprendizado das técnicas laboratoriais necessárias em curto período e a capacidade de executá-las”. Vivenciar a pesquisa básica tem sido uma experiência transformadora para Antunes, que já contribuiu com a equipe do LAGECA em processos como a extração de DNA e RNA e o cultivo e a replicação de células tumorais in vitro.
“Estou muito animada, muito curiosa, muito grata pela oportunidade. Quando pedi à professora Carmen para vir para cá, eu achava que iria ver as coisas funcionando no laboratório, ver um pouquinho apenas, e, agora, já estou envolvida no projeto. Quero aprender o máximo possível no tempo que estou aqui”, diz entusiasmada. Ela também descreve o acolhimento que recebeu da equipe do laboratório, especialmente nos ensinamentos e no esclarecimento de dúvidas sobre as técnicas de pesquisa básica. “Toda a gente é muito simpática. Senti-me sempre bem-vinda. O apoio é imenso”, avalia.
Na bagagem de volta à Alemanha
Para a estudante, a experiência no LAGECA tem potencial para influenciar seus próximos passos na carreira. Além de seu interesse inicial pela Oncologia, Antunes considera seguir também o caminho da pesquisa científica quando retornar à Alemanha, o que incluirá uma jornada até, talvez, uma pesquisa de doutorado. Fora isso, trabalhar diretamente com pacientes é outra frente de atuação desejada por ela. “Na Alemanha, trabalho em um consultório de pediatria. Eu gosto muito da interação com os pacientes. Então, não imagino que eu seja uma pesquisadora em tempo integral. Consigo imaginar bem que alguma combinação entre a pesquisa e a clínica seria uma opção”, salienta.
Lima acrescenta que Antunes tem demonstrado interesse em participar de outras atividades acadêmicas junto aos médicos da Oncologia, como o Congresso Brasileiro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, a ser realizado no Rio de Janeiro (RJ) entre os dias 7 e 9 de novembro deste ano, e do European Society of Medical Oncology Congress, a ser realizado em Berlim (Alemanha), entre 17 e 21 de outubro de 2025, com os pesquisadores do LAGECA – e apresentando, se possível, os resultados do projeto de pesquisa que ela tem conduzido aqui.
Ao final de sua visita ao Brasil, a intercambista levará consigo não apenas novos aprendizados, mas também a experiência de vivenciar a Medicina e a pesquisa científica sob diferentes perspectivas.
Texto e fotos: Romulo Santana Osthues