No dia 11 de outubro de 2024, em Brisbane, na Austrália, durante o 22º Encontro Geral da International Society of Limb Salvage (ISOLS), o Dr. Maurício Etchebehere, médico ortopedista, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM/Unicamp) e pesquisador associado do CEPID CancerThera apresentou o paper intitulado “Comparison of PET/CT images with 18F-FDG and 18F-PSMA-1007 in musculoskeletal tumors to evaluate the potential of Theranostics approach” (em português, “Comparação das imagens de PET/CT com 18F-FDG e 18F-PSMA-1007 em tumores musculoesqueléticos para avaliar o potencial da abordagem Teranóstica”).
O paper é resultado de um estudo que compara imagens PET/CT de tumores musculoesqueléticos obtidas a partir do uso dos dois radiofármacos citados no título. Ele se destacou pela relevância dos achados descritos, recebendo o reconhecimento como um dos 25 melhores, entre os mais de 600 papers submetidos de todas as partes do mundo, que foram apresentados no congresso. “Ficamos agradavelmente surpresos, pois este é apenas o início do nosso braço do estudo, um resultado ainda muito preliminar”, diz Etchebehere, revelando o sentimento dele e do grupo de pesquisadores que conduziram a investigação ao receberem a notícia da premiação.
O grupo é composto por membros de duas equipes da Unicamp: da Divisão de Tumores Musculoesqueléticos, Departamento de Ortopedia, Reumatologia e Traumatologia (FCM/Unicamp), participaram Carlos Eduardo Hideo Hanasilo, Mayara Branco e Silva e Maurício Etchebehere; e da Divisão de Medicina Nuclear, Departamento de Anestesiologia, Oncologia e Radiologia (FCM/Unicamp), participaram Allan de Oliveira Santos, Elba Cristina Sá de Camargo Etchebehere, Gardenia de Oliveira Barbosa, Mariana da Cunha Lopes de Lima e Natália Tobar.
Precisão no diagnóstico, terapêutica personalizada
O reconhecimento ressalta a importância do uso da abordagem Teranóstica em Oncologia Ortopédica, permitindo não apenas o diagnóstico preciso, mas também abrindo caminho para terapêuticas mais personalizadas e eficazes nos cuidados com pacientes com tumores complexos. O estudo premiado envolveu oito pacientes com tumores avançados e metastáticos. As imagens obtidas mostraram que, em cinco dos casos, o PSMA PET/CT teve uma captação mais alta que o FDG PET/CT, sugerindo que o PSMA pode ser um marcador mais eficaz para o diagnóstico e o monitoramento desses tumores.
Isso tem implicações diretas para o tratamento de sarcomas, tumores notoriamente difíceis de tratar devido à heterogeneidade histológica e à localização anatômica diversificada. Um dos casos mais marcantes foi o de um paciente com um tumor recorrente de células gigantes na região sacral, no qual o PSMA apresentou uma captação de SUV (Standardized Uptake Value) de 100, contra 16 do FDG, evidenciando o alcance superior da técnica para determinadas lesões. Outro exemplo incluiu um paciente com metástase osteolítica de carcinoma renal, no qual o SUV de PSMA foi 40, em comparação com 11 do FDG, reforçando a capacidade do PSMA PET/CT de detectar metástases com maior precisão.
O futuro da pesquisa
Essa descoberta abre caminho para o uso da abordagem Teranóstica de forma mais ampla no tratamento de tumores musculoesqueléticos. A combinação de diagnóstico por imagem com tratamento direcionado pode revolucionar a forma como equipes de saúde abordam casos complexos e recorrentes, oferecendo terapias mais personalizadas e eficazes.
Com a expectativa de impactar positivamente a vida de pacientes com tumores musculoesqueléticos, a pesquisa de Maurício Etchebehere e sua equipe reafirma sua pertinência na medicina de precisão. “A Teranóstica é uma abordagem totalmente nova para os tumores musculoesqueléticos e, principalmente, para os sarcomas. Há muito a ser estudado. Esperamos identificar os tumores que têm potencial para serem submetidos ao tratamento com lutécio-PSMA”, explica o pesquisador.
O reconhecimento no Encontro Geral da ISOLS deste ano é uma evidência da importância do estudo para a Oncologia global, colocando o Brasil em destaque no desenvolvimento de novas tecnologias em diagnóstico e tratamento do câncer. “Talvez, num futuro não muito distante, poderemos usar radiofármacos teranósticos de forma neoadjuvante, antes de operar um sarcoma, e, assim, reduzir a possibilidade de recidiva”, completa Etchebehere, sinalizando que seu grupo já trabalha em novas frentes de pesquisa, buscando ampliar o uso clínico da abordagem Teranóstica.
Sobre o Encontro Geral da ISOLS 2024
É um dos maiores congressos internacionais dedicados ao avanço da ciência e da prática clínica na área de Oncologia Ortopédica, atraindo médicos, cientistas e pesquisadores de todo o mundo para compartilhar as mais recentes inovações no tratamento e na preservação de membros afetados por tumores. O evento de 2024 contou com uma ampla variedade de trabalhos científicos que abordaram desde novos avanços em próteses até tecnologias de imagem e terapias emergentes.
Texto: Romulo Santana Osthues | Fotos: Acervo pessoal